Por: Aline Oliveira
Agora que acabou,
vejo quanta inconsistência atravessou os dias, dias e noites de um tempo
apressado em não querer passar. Ou será que foi essa mania de ver em câmera
lenta? Sobretudo aquilo que deixa cicatrizes, feridas que não saem sem deixar
marcas. Preocupo-me agora com o tempo - perdido e ganho, nunca é uma coisa só.
Talvez tenha ganhado com a demora para esbarrar em você, afinal não sei como
seria se fosses minha manhã de verão em vez dessa tarde chuvosa de um outono
incerto. Bobagem essa coisa de pensar no se. E mais bobagem ainda não pensar.
Será que pensas também? Novamente as possibilidades.
Não sei qual tempo
agora se apresenta, tudo tão confuso e sem sentido, fazendo sentir demais. O
tempo que agora tenho para fingir que não faz diferença, enquanto tento
resgatar aquele sexto sentido sempre gritando que faz. As horas presas em
atividades chatas da vida de adulto, conferindo informações e sempre alerta
para o vencimento de contas, idas a lugares burocráticos e pressa para o pouco
espaço do dia que não seja preenchido por obrigações.
Aquela vontade de
rasgar o verbo, pois talvez isso doa menos do que se afastar aos poucos, como
quem olha pelo retrovisor o lugar para onde não sabe se voltará. Dizer com
clareza coisas que tragam arrependimento e um pedido nobre de desculpas depois.
Meditar na ideia de que vai passar, e quando isso acontecer, tudo será mais
leve. São bons, é, são bons esses tempos em que se precisa varrer pedaços do
que foi partido, quando no fundo, isso significa que é necessário se recolher.
E logo começam as
retrospectivas, e as promessas com suas porcentagens óbvias do que será
cumprido e do que continuará sendo apenas promessa. O virar da folha de mês que
nos pede para acreditar no novo, com todos os seus medos e doçuras que vêm de brinde.
Um brinde, recolhe o que foi perdido e tente de novo ganhar.