domingo, 6 de dezembro de 2015

Finitude



Por: Aline Oliveira

Agora que acabou, vejo quanta inconsistência atravessou os dias, dias e noites de um tempo apressado em não querer passar. Ou será que foi essa mania de ver em câmera lenta? Sobretudo aquilo que deixa cicatrizes, feridas que não saem sem deixar marcas. Preocupo-me agora com o tempo - perdido e ganho, nunca é uma coisa só. Talvez tenha ganhado com a demora para esbarrar em você, afinal não sei como seria se fosses minha manhã de verão em vez dessa tarde chuvosa de um outono incerto. Bobagem essa coisa de pensar no se. E mais bobagem ainda não pensar. Será que pensas também? Novamente as possibilidades.
Não sei qual tempo agora se apresenta, tudo tão confuso e sem sentido, fazendo sentir demais. O tempo que agora tenho para fingir que não faz diferença, enquanto tento resgatar aquele sexto sentido sempre gritando que faz. As horas presas em atividades chatas da vida de adulto, conferindo informações e sempre alerta para o vencimento de contas, idas a lugares burocráticos e pressa para o pouco espaço do dia que não seja preenchido por obrigações.
Aquela vontade de rasgar o verbo, pois talvez isso doa menos do que se afastar aos poucos, como quem olha pelo retrovisor o lugar para onde não sabe se voltará. Dizer com clareza coisas que tragam arrependimento e um pedido nobre de desculpas depois. Meditar na ideia de que vai passar, e quando isso acontecer, tudo será mais leve. São bons, é, são bons esses tempos em que se precisa varrer pedaços do que foi partido, quando no fundo, isso significa que é necessário se recolher.
E logo começam as retrospectivas, e as promessas com suas porcentagens óbvias do que será cumprido e do que continuará sendo apenas promessa. O virar da folha de mês que nos pede para acreditar no novo, com todos os seus medos e doçuras que vêm de brinde. Um brinde, recolhe o que foi perdido e tente de novo ganhar.