terça-feira, 15 de julho de 2014

Lápis, caneta e alguns erros

Por: Aline Oliveira


Ato de errar, inexatidão, desvio do bom caminho. Engano, desacerto, incorreção, pecado e ilusão. Assim diz o dicionário* quando pergunto o que é erro. Mas deixando de lado os possíveis significados da palavra, pensemos na sua interpretação nos dias atuais.

Ultimamente, na mais simples rotina de nossas vivências diárias, me assusta o modo como nossos erros são interpretados e os julgamentos que recebem pequenas falhas às quais todos estamos suscetíveis. Ainda mais se pensarmos em dias cheios de responsabilidades e resultados a serem atingidos.

Lembro-me dos tempos de escola, em que um estimado professor de matemática era incansável nas correções dos exercícios. Faz, corrige, apaga, refaz. Corrige, apaga de novo, refaz, corrige, aprende! Não importava quantas vezes o erro aparecesse o importante era tentar novamente, ir atrás da solução exata das equações e seus gráficos. Matemática é prática, sempre soube disso.

E vida é prática também, ora. Li dia desses em um livro em que determinado trecho alertava para a necessidade de se alcançar uma narrativa humanizada. É preciso, para tanto, a união de três ações: pensar, sentir e agir – dizia a autora. O que me veio à mente foi que não precisamos apenas de uma narrativa humanizada, necessitamos de algo mais raro ainda: pessoas humanizadas. Pode até soar pessimista, mas não deixa de ser verdade.

Não raro tem gente por aí querendo fazer justiça com as próprias mãos, crucificando ações alheias e, claro, transbordando egoísmo por onde passa. Óbvio que é preciso distinguir erros muitas vezes involuntários de ações intencionais, atitudes de má-fé – porque essas sim devem ter suas consequências assumidas.

Volto aos tempos de escola: primeiro, começávamos a escrever com o lápis. Quando tinha mais confiança e o aval da professora, a gente passava gradativamente a usar a caneta. Pensando em algumas situações cotidianas, vejo que falta um espaço de aprendizado, essa figura de um professor que incentive a acertar mesmo que para isso milhares de erros sejam necessários. Alguém que incentive nosso desenvolvimento sabendo respeitar o tempo que leva para isso acontecer. Hoje, não podemos mais falhar. Uma resposta errada te elimina no vestibular, uma frase mal dita (e talvez maldita) te faz perder o emprego, um erro ortográfico desmorona a credibilidade de quem escreve bem.

O erro é visto como algo separado de tudo, nem sempre é levado em conta o contexto de um determinado caso, o que talvez diminuísse a ‘culpa’ da pessoa envolvida. Aliás, essa coisa de culpa é uma tremenda injustiça. Quando em grupo um projeto vai bem, todos querem o mérito, todos ‘estão de parabéns’. Agora se aparece um erro, por mais idiota que seja, não falta quem diga ‘essa parte não é minha, não fui eu que fiz’ (pense se já não passou por alguma situação do tipo).

E no meio disso tudo o que falta é reflexão. Porque ao parar para pensar, uma ou outra hora, a gente percebe que deu mancada e que precisa se desculpar/melhorar/refazer/aprender/ser menos injusto e quem sabe, mais feliz.

Agora, se por acaso esse texto for uma bobagem, assumo o desacerto e volto ao dicionário sem problemas. Não me canso de aprender.



* Erro in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa, 2008-2013

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