É entrega. A gente volta transformado;
mais do que isso, volta transtornado. Se não for assim, não aconteceu a
reportagem.
Além de um sarau, um bate-papo, vi ali uma aula. De jornalismo, de humanidade.
Encantada com a identidade que imprime em seus trabalhos, pude ver de perto e
ouvir a narrativa de quem só conhecia pelos livros. Eliane Brum.
Entre relatos de reportagens e lembranças dos
personagens da literatura da vida real, Eliane falou um pouco de sua época de
escola e da relação com a leitura. Na minha casa tinha que ter duas coisas:
comida e livro; roupa nunca foi tão importante. Na hora me veio à cabeça um trecho de Meio pão e um livro, texto
de Federico García Lorca, escrito em 1931.
[...] Não
só de pão vive o homem. Eu, se tivesse fome e estivesse abandonado na rua, não
pediria um pão, pediria meio pão e um livro. Critico violentamente os que falam
apenas de reivindicações econômicas, sem jamais ressaltar as culturais, que os
povos pedem aos gritos.
Ótimo que todos os homens comam; melhor
que todos tenham saber. Que gozem todos os frutos do espírito humano, porque o
contrário é serem transformados em máquinas a serviço do Estado, convertidos em
escravos de uma terrível organização social.
Lamento muito mais por um homem que
deseja saber e não pode, do que por um faminto. Este aplaca a fome com um
pedaço de pão ou algumas frutas. Mas um homem que têm ânsia de saber e não
possui os meios, sofre uma profunda agonia, porque são livros, muitos livros de
que necessita. E onde estão esses livros?
Livros! Livros! Palavra mágica que
equivale a dizer: ‘amor, amor’, e que os povos deviam pedir como pedem pão ou
anseiam por chuva após semearem [...]”
Recebi esse texto de uma professora que é ao mesmo tempo
aluna, Jéssica. Como eu, ela acredita na beleza de ensinar e aprender. Assim,
dois aliados. Transmitir conhecimento ao outro e dele receber também. Gosto de
ler. Os livros, as pessoas, a vida. Percebo que é importante saber que não se
está sozinho nessa.
A leitura e a escrita têm o poder de aproximar
mundos que são distantes. Acredito profundamente nisso. Eu também,
Eliane, eu também!
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